Frei Gilson e Dom José Falcão refletem as parábolas do Evangelho – Os operários da vinha – IX (Mateus 9,1-16):
“Com efeito, o Reino dos céus é semelhante a um pai de família que saiu ao romper da manhã, a fim de contratar operários para sua vinha. 2. Ajustou com eles um denário por dia e enviou-os para sua vinha. 3. Cerca da terceira hora, saiu ainda e viu alguns que estavam na praça sem fazer nada. 4. Disse-lhes ele: – Ide também vós para minha vinha e vos darei o justo salário. 5. Eles foram. À sexta hora saiu de novo e igualmente pela nona hora, e fez o mesmo. 6. Finalmente, pela undécima hora, encontrou ainda outros na praça e perguntou-lhes: – Por que estais todo o dia sem fazer nada? 7. Eles responderam: – É porque ninguém nos contratou. Disse-lhes ele, então: – Ide vós também para minha vinha. 8. Ao cair da tarde, o senhor da vinha disse a seu feitor: – Chama os operários e paga-lhes, começando pelos últimos até os primeiros. 9. Vieram aqueles da undécima hora e receberam cada qual um denário. 10. Chegando por sua vez os primeiros, julgavam que haviam de receber mais. Mas só receberam cada qual um denário. 11. Ao receberem, murmuravam contra o pai de família, dizendo: 12. – Os últimos só trabalharam uma hora… e deste-lhes tanto como a nós, que suportamos o peso do dia e do calor. 13. O senhor, porém, observou a um deles: – Meu amigo, não te faço injustiça. Não contrataste comigo um denário? 14. Toma o que é teu e vai-te. Eu quero dar a este último tanto quanto a ti. 15. Ou não me é permitido fazer dos meus bens o que me apraz? Porventura vês com maus olhos que eu seja bom? 16. Assim, pois, os últimos serão os primeiros e os primeiros serão os últimos. Muitos serão os chamados, mas poucos os escolhidos”.
Mateus 20,1-16
A fé, que age pela caridade, não decai ou, se em alguns se debilita, readquirem-na antes da morte e, perdoado o pecado consequente, são agraciados com a perseverança final. Aqueles, porém, que não hão de perseverar e, assim, se afastarão da fé e da conduta cristãs, surpreendidos pelo término desta vida, não serão incluídos no número dos eleitos, não se considerando sequer o tempo em que viveram uma vida santa e piedosa. Pois não foram segregados da massa de perdição pela presciência e predestinação de Deus e, portanto, não foram chamados segundo seu desígnio nem eleitos. Serão incluídos entre os muitos chamados, e não entre os poucos escolhidos».
Santo Agostinho (354-430)
A Correção e a Graça, 7, 16
E nós sabemos que Deus coopera em tudo para o bem daqueles que o amam, daqueles que são chamados segundo o seu desígnio. Porque os que de antemão ele conheceu, esses também predestinou a serem conformes à imagem do seu Filho, a fim de ser ele o primogênito entre muitos irmãos. E os que predestinou, também os chamou; e os que chamou, também os justificou, e os que justificou, também os glorificou.
Romanos 8,28-30
“Muitos são os chamados e poucos os escolhidos”; porque muitos são os chamados à fé e poucos chegam ao Reino celestial. Vede quantos nos reunimos neste templo para celebrar a festa deste dia. Enchemos todos os lugares; porém, quem sabe quão poucos são os que são contados entre os escolhidos de Deus? Vede que todos aclamamos a Jesus Cristo com nossa palavra; porém, não o aclama a vida de todos. Muitos seguem a Deus com palavra, porém fogem d’Ele com seus costumes… Aqui estão misturados com os fiéis por meio dos sacramentos; porém, por sua vida perversa não merecem ser contados na classe dos fiéis. Neste redil da Santa Igreja, os cabritos estão misturados com os cordeiros. Porém, como ensina o Evangelho, quando vier o justo juiz, separará os bons dos maus, assim como o pastor separa as ovelhas dos cabritos (cf. Mt 25,32). Porque de nenhum modo poderão contar-se no Reino, dentro do rebanho das ovelhas, os que aqui seguem os prazeres da carne. Ali o justo juiz separará da sorte dos humildes os que agora se ensoberbecem”.
São Gregório Magno (540-604)
Homiliae in Evangelia, 19, 5
“Ide vós também, para a minha vinha” (Mt 20,4). Assim fala no Evangelho o dono da vinha, aos operários que ele contrata para trabalhar em distintas horas do dia. Assim fala também, desde o início da história do homem sobre a terra o Deus-Criador, o Dono Absoluto do universo: “Crescei e multiplicai-vos, enchei a terra e dominai-a” (Gn 1,28). Esta frase do livro do Gênesis, indica as diretrizes essenciais da vocação do homem sobre a terra: família e trabalho. De fato, todos os homens e mulheres devem nascer e crescer numa família, que encontra o sustento no trabalho de seus membros. “Ide trabalhar!” fala o Divino Senhor às gerações sempre novas, nas diversas horas da história e nos mais variados lugares em que habita o ser humano. […] “No fim da tarde o dono da vinha disse ao administrador: Chama os operários e paga-lhes o salário, começando pelos últimos até os primeiros” (Mt 20,8). A parábola dos operários da vinha tem como tema o trabalho humano, que conforme os princípios da justiça requer um pagamento adequado. Mas, ao mesmo tempo, esta parábola apresenta a imagem do conjunto da vida humana sobre a terra. A vida do homem no seu conjunto orienta-se para a justiça definitiva, que é superior à da terra. Nós cremos, e esta é uma das verdades fundamentais da fé, que Deus premia o bem e castiga o mal. O critério para entrar na glória do seu Reino é o serviço ao irmão necessitado, presença viva de Cristo entre nós, no amor e na justiça (cf. Mt 25,31-46). A parábola do Evangelho confirma esta verdade. Mas ao mesmo tempo, a supera. Assim se explica que os operários da primeira hora reclamassem, porque não receberam salário maior. O que Deus, Senhor da grande vinha da história, quer oferecer-nos, na eternidade do seu Reino, supera qualquer proporção com a justiça terrena. O que “nem o olho viu, nem o ouvido ouviu, nem entrou no coração do homem, é o que Deus preparou para aqueles que o amam” (1Cor 2,9). Este é, sem dúvida, o Dom sobrenatural, o dom da participação na vida íntima da Santíssima Trindade, quando veremos a Deus face a face”.
São João Paulo II (1920-2005)
Homilia na celebração da Palavra no Conjunto
“Virgem dos Pobres”, em Maceió (AL), 19/10/1991, nn. 1.6