Dom José Falcão de Barros reflete sobre a frase “Seja feita a Vossa vontade assim na terra como no céu”, da oração do Pai Nosso, a partir de um texto de Teodoro de Mopsuéstia:

“Desejo que tenhais em vista as coisas do mundo futuro e, enquanto estais ainda neste mundo, conduzi, de acordo com as vossas forças, a vossa vida como se fôsseis já do outro [mundo]. Não no sentido de que não deveis mais comer nem beber, nem usar das coisas necessárias para viver, mas no sentido que deveis amar o bem que escolhestes e com ele preocupar-vos sempre. Permito-vos usar as coisas deste mundo, contanto que satisfaçais uma necessidade urgente, mas não peçais nem busqueis ter mais que o necessário. Aquilo de que fala o bem-aventurado Paulo, quando diz: Se temos alimento e vestuário, contentemo-nos com isso (1Tm 6, 8), nosso Senhor o chama pão, designando assim o que é preciso usar. Com efeito, nós consideramos que o pão seja a melhor coisa para nutrir-se e se manter nesta vida terrena. Este hoje significa ‘agora’ porque nós existimos ‘hoje’ e não ‘amanhã’; porque, ainda que cheguemos ao dia seguinte, quando chegarmos, estaremos no ‘hoje’. A divina Escritura chama ‘hoje’ aquilo que existe agora ou que está próximo. Segundo o bem-aventurado Paulo, hoje, se ouvirdes a sua voz, não endureçais os vossos corações como no dia da provocação…, mas exortai-vos, antes, uns aos outros, dia após dia, enquanto ainda se disser ‘hoje’ (Hb 3, 7-8.13). Isto quer dizer que, enquanto estamos neste mundo, devemos escutar continuamente essa palavra, que cada dia orientará a nossa consciência, manterá desperta a nossa alma e a estimulará a corrigir a nossa conduta, distanciando-nos do vício e movendo-nos para o bem.

Teodoro de Mopsuestia, Homilia 12, 14, em VVAA, Il Padre Nostro.