Dom José Falcão de Barros reflete sobre a frase “Seja feita a Vossa vontade assim na terra como no céu”, da oração do Pai Nosso, a partir de um texto de São Máximo, o confessor:

“Com a palavra ‘hoje’ penso que se entende o século presente. Como se alguém, depois de ter entendido bem claramente este ponto da oração, dissesse: ‘Dai-nos hoje, a nós que vivemos a presente vida mortal, o nosso pão que preparastes no princípio para a imortalidade da natureza’ (Gn 2, 9). E o alimento que é este pão de vida e conhecimento vencerá a morte do pecado: este pão do qual o primeiro homem não pôde ser partícipe, por causa da transgressão do mandamento divino (Gn 3, 19). Se ele tivesse sido saciado por esse alimento divino, não teria sido atingido pela morte, consequência do pecado. Porém, quem reza para receber esse pão supersubstancial não o recebe absolutamente por inteiro como é em si esse pão, mas na medida em que ele mesmo pode recebê-lo. De fato, a todos aqueles que o pedem, o pão da vida, no seu amor pelos homens, dá-se a si mesmo; não, porém, a todos do mesmo modo: a quem realizou grandes obras, com mais; a quem realizou obras menores, com menos. Portanto, a cada um segundo aquilo que pode receber a dignidade do seu intelecto. Para compreender a presente expressão, conduziu-nos o próprio Salvador, quando explicitamente ordena aos seus discípulos que não se preocupem com o alimento material, dizendo: ‘Não vos preocupeis com a vossa vida quanto ao que haveis de comer, nem com o vosso corpo quanto ao que haveis de vestir. De fato, são os gentios que estão à procura de tudo isso. Buscai primeiro o reino de Deus e a sua justiça e todas essas coisas vos serão acrescentadas’ (Mt 6, 25.32-33). Como poderia ensinar a pedir com a oração aquilo que antes nos ordena de não buscar? É evidente que não nos ordenava com a oração aquilo que não mandava buscar mediante o mandamento”.

São Máximo, o confessor, Orationis dominicae brevis expositio (PG 90, 359-360)