Dom José Falcão de Barros reflete sobre a frase “Seja feita a Vossa vontade assim na terra como no céu”, da oração do Pai Nosso, a partir de um texto de Santo Agostinho:

“Quando dizes ‘o pão nosso de cada dia nos dai hoje’, confessas que és mendigo de Deus; não tenhas vergonha. Por muito rico que alguém seja na terra, é mendigo de Deus. O mendigo está diante da porta do rico, e o rico diante da porta do grande rico. Pedimos ao rico, e ele também pede. Se não fosse mendigo, não bateria com a oração à porta dos ouvidos de Deus. E de que precisa o rico? Atrevo-me a dizê-lo: também precisa do pão de cada dia. Por que razão abunda ele em todas as coisas? Donde, senão porque Deus lho deu? Que teria ele, se Deus retirasse a sua mão? Não há muitos que adormeceram ricos e acordaram pobres? Mas este pão, caríssimos, com que encheis o estômago e refazeis diariamente o corpo, Deus oferece-o não apenas aos que O bendizem, mas também aos que blasfemam o seu santo nome, pois faz nascer o sol sobre bons e maus e chover sobre justos e injustos (Mt 5, 45). Alimenta-te se O bendizes e alimenta-te se O amaldiçoas. Espera para que faças penitência e, se não te convertes, condena-te. Ao veres que os bons e os maus recebem de Deus este pão, pensas que não há outro pão que os filhos devem pedir, e do qual o Senhor dizia: ‘Não é bom tomar o pão dos filhos e deitá-lo aos cães’ (Mt 15, 26)? Há, com certeza! Que pão é esse? E por que se lhe chama quotidiano? Porque é um pão necessário e sem o qual não podemos viver”

Santo Agostinho, Sermo 56, 6, 9-10 (PL 38, 381)