Dom José Falcão de Barros comenta o Catecismo da Igreja Católica. Reflete sobre a frase “O pão nosso de cada dia nos dai hoje”, da oração do Pai Nosso, e um texto de São João Cassiano:
“Segue o pedido: Dai-nos hoje o nosso pão epioúsion, quer dizer supersubstancial, aquele que outro evangelista chamou ‘quotidiano’ (Lc 11, 3). O primeiro adjetivo (supersubstancial) significa a prerrogativa daquele alimento, ou seja, a sua nobreza e a sua substância, que está acima de qualquer outra substância, porque a sublimidade da sua suprema santificação supera qualquer outra substância e todas as criaturas. O outro adjetivo, ao invés, indica propriamente o seu uso e a sua utilidade. Na realidade, quando diz ‘quotidiano’, indica que sem ele não podemos gozar da vida do espírito nem por um dia; quando diz ‘hoje’, demonstra que ele deve ser tomado todo dia e que o seu consumo no dia anterior não basta, visto que também hoje ele é oferecido do mesmo modo. A necessidade quotidiana desse alimento deve ensinar-nos a necessidade de repetir sempre essa oração, porque não existe dia no qual não haja necessidade para nós de assegurar o coração do nosso homem interior com a assunção de tal alimento, sendo verdade que com a palavra ‘hoje’ é possível fazer referência também à vida presente, ou seja, enquanto ainda peregrinamos nesta vida. Na realidade, sabemos que esse pão deverá ser concedido também àqueles que o merecerem na vida futura; todavia, nós te pedimos concedê-lo também hoje precisamente porque, se alguém não o merecer na vida presente, muito menos poderá participar dele na futura”.
São João Cassiano, Collationes, 9, 21 (PL 49, 794-796)