Dom José Falcão de Barros comenta o Catecismo da Igreja Católica. Reflete sobre a frase “O pão nosso de cada dia nos dai hoje”, da oração do Pai Nosso, e um texto de Papa Bento XVI:
“Com ‘de cada dia’, é traduzida a palavra grega epiousios, sobre a qual um dos maiores mestres da língua grega – o teólogo Orígenes (c. 251) – diz que esta palavra não existia em grego, que tinha sido criada pelos evangelistas. Entretanto, foi encontrada uma prova para esta palavra num papiro. Mas ele sozinho não pode oferecer nenhuma certeza sobre o significado desta palavra tão pouco habitual e rara. Estamos, assim, dependentes de etimologias e do estudo do contexto. Hoje, há dois significados principais. Um diz que a palavra significa ‘o necessário para ser’, e assim o pedido soaria deste modo: dá-nos hoje o pão que precisamos para poder viver. O outro significado diz que a tradução correta seria: o futuro, para os dias seguintes. Mas o pedido de obter hoje o pão para amanhã parece não ter sentido a partir da existência dos discípulos. Antes seria a referência ao futuro compreensível, se fosse pedido o pão verdadeiramente futuro: o verdadeiro maná de Deus. Isso seria então um pedido escatológico, o pedido pela antecipação do mundo que há de vir, para que o Senhor já ofereça ‘hoje’ o pão do futuro, o pão do mundo novo – Ele mesmo. Então, o pedido alcança um sentido escatológico. Os Padres da Igreja quase unanimemente compreenderam o quarto pedido do Pai-Nosso também como pedido eucarístico; neste sentido, o Pai-Nosso está na liturgia da Santa Missa como uma oração da mesa eucarística. Isto não significa que tenham assim tirado o sentido terreno do pedido dos discípulos, que nós explicamos anteriormente como o significado imediato do texto. Os Padres da Igreja pensam em dimensões de uma palavra que começa com o pedido do pão dos pobres para este dia, mas, precisamente assim – contemplando o Pai que está no céu e que nos alimenta – recordam o povo de Deus peregrino, que Deus alimentou”
Papa Bento XVI, Jesus de Nazaré, São Paulo, Planeta, 2007, pp.138-143