Dom José Falcão de Barros comenta o Catecismo da Igreja Católica. Reflete sobre a frase “Perdoai-nos as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido”, da oração do Pai Nosso, e um texto de São Cromácio de Aquileia:

“Este pedido é certamente justo e mais necessário que todos os outros. Antes de tudo, porque é necessário que nos confessemos pecadores; depois, porque nos comprometemos a perdoar aqueles que pecam contra nós, na medida com a qual pedimos a Deus que nos perdoe. Se não perdoamos de fato, condenamo-nos com as nossas mesmas palavras diante de Deus, pois a Escritura afirma com razão: ‘As palavras do homem são como um vínculo indissolúvel para ele mesmo’ (Pr 6, 2). Com razão também Salomão, por força do Espírito Santo, quase antecipando o sinal dessa oração dominical, advertiu: ‘Na tua oração não dirás o falso’ (Eclo 7, 10). Quem jamais ousaria ou como poderia mentir a Deus, se quer rezar? A não ser que se trate daquele tal que, enquanto pede perdão ao Senhor dos próprios pecados, de sua parte, não sabe depois perdoar aqueles que lhe ofendem, porque esqueceu do que disse o Senhor: ‘Um homem guarda rancor contra outro homem, e pede a Deus a sua cura! Não tem misericórdia para com o seu semelhante, e roga o perdão dos seus pecados?’ (Eclo 28, 3-4). Há um texto sagrado no qual o Senhor não podia ser mais explícito: trata-se do texto evangélico que trata do servo que fora perdoado pelo seu senhor de um enorme débito, porque suplicara um pouco de tempo; depois – tendo sido perdoada toda a dívida – aquele ingrato não quis ter paciência com seu escravo. Em conclusão, o senhor jogou na prisão, para pagar a pena merecida, aquele servo que se mostrara impiedoso (Mt 18, 23-35)”

São Cromácio de Aquileia, Tractatus in Mathaeum, 14, 6 (PL 20, 361-362)