Dom José Falcão de Barros comenta o Catecismo da Igreja Católica. Reflete sobre a frase “Perdoai-nos as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido”, da oração do Pai Nosso, e um texto de Santo Tomás de Aquino:
Quanto à segunda consideração, é preciso lembrar que, no pecado, são dois os mentos presentes: a culpa, pela qual se ofende a Deus, e o castigo devido pela ofensa. Ora, a falta é remida pela contrição, se esta é acompanhada do propósito de se confessar e de satisfazê-la. Declara o Salmista: Eu disse: confessarei ao Senhor contra minha injustiça; e tu me perdoaste a impiedade de meu pecado (Sl 32[31], 5). Como dissemos, se a contrição dos pecados, com o propósito de confessá-los, basta para obter sua remissão, o pecador não deve desesperar. Mas alguém pode objetar: se a contrição do pecado redime a culpa, por que é necessário a confissão ao sacerdote? A esta pergunta responderemos: Deus, pela contrição, redime o pecado, mudando o castigo eterno em castigo temporal; o pecador, contrito, fica submetido à pena temporal. Assim, se o pecador morre sem confissão, não por tê-la desprezado, mas porque a morte o surpreendeu, irá para o purgatório onde, segundo Santo Agostinho, sofrerá muitíssimo. No entanto, ao vos confessar, o sacerdote vos absolve da pena temporal pelo poder das chaves, ao qual vos submeteis na confissão; pois disse Cristo aos Apóstolos: Recebei o Espírito Santo; àqueles a quem perdoardes os pecados, serão perdoados e aos que os retiverdes, serão retidos (Jo 20, 22-23). Assim, quando se confessa uma vez, alguma parte da pena é perdoada e, do mesmo modo, quando se repete a confissão ou se confessa, tantas vezes quanto necessário, será totalmente perdoada. Os sucessores dos Apóstolos acharam um outro modo de remir a pena temporal: pelo benefício das indulgências. Para quem vive na caridade, as indulgências têm o valor que o Papa lhes pode conferir. Quando os santos fazem boas obras, sem terem pecado ao menos mortalmente, essas obras são úteis para a Igreja. Do mesmo modo os méritos de Cristo e da bem-aventurada Virgem são reunidos como um tesouro. O Soberano Pontífice e aqueles a quem ele confiou tal cuidado, podem aplicar estes méritos, onde mais houver necessidade. Assim, pois, os pecados são remidos, quanto à falta, peia contrição, e quanto à pena, pela confissão e pelas indulgências.
Santo Tomás de Aquino, In orationem dominicam, 64-74