Dom José Falcão de Barros comenta o Catecismo da Igreja Católica. Reflete sobre a frase “Perdoai-nos as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido”, da oração do Pai Nosso, e um texto de Santo Tomás de Aquino:

“Quanto à terceira consideração: que devemos fazer para que Deus realize nosso pedido, Deus requer, de nossa parte, que perdoemos ao próximo as ofensas que nos fez. É por isso que nos faz dizer: assim como nós perdoamos os nossos devedores. Se agirmos de outra maneira, Deus não nos perdoará. Diz-nos o Eclesiástico: Perdoa a teu próximo o mal que te fez e a seu pedido teus pecados ser-te-ão perdoados. O homem guarda sua ira para com outro homem e pede a Deus remédio? Não tem compaixão de um homem seu semelhante, e pede perdão de seus pecados? Sendo carne, conserva rancor e pede propiciação a Deus? Quem lha alcançará por seus delitos? (Eclo 28, 2-5). Perdoai e ser-vos-á perdoado (Lc 6, 37). É por isso que, neste quinto pedido do Pai Nosso, o Senhor nos põe uma única condição: perdoai o outro. Se assim não fazemos, não seremos perdoados. Mas poderíamos dizer: Direi as primeiras palavras do pedido a saber: perdoai as nossas dívidas, mas não as últimas: como nós perdoamos aos nossos devedores. Quereis enganar a Cristo? Mas certamente não enganareis. Cristo compôs esta oração e dela se lembra bem; como podeis enganá-lo? Portanto, se dizeis com a boca, ratificai com o coração. Mas, perguntamos, aquele que não tem o propósito de perdoar seu próximo deve dizer: Assim como nós perdoamos os nossos devedores? Parece que não, pois estaria mentindo. Mas respondo que não estaria mentindo, porque não está rezando em seu nome, mas em nome da Igreja, que não se engana. É por isso que esse pedido foi posto no plural. Precisamos saber que há dois modos de perdoar o próximo. O primeiro é o dos perfeitos, que leva os ofendidos a procurarem os ofensores, como diz o Salmista: Procurai a paz (Sl 34[33], 15). O segundo modo de perdoar é comum a todos, é a obrigação de todos; nada mais é que perdoar os que pedem perdão, como diz o Eclesiástico; Perdoa teu próximo pelo mal que te fez e a seu pedido teus pecados ser-te-ão perdoados” (Eclo 28, 2).

Santo Tomás de Aquino, In orationem dominicam, 64-74