Dom José Falcão de Barros comenta o Catecismo da Igreja Católica. Reflete sobre a frase “Perdoai-nos as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido”, da oração do Pai Nosso, e um texto do Papa Francisco:

“Não é ocasional que o Evangelho de Mateus, logo depois de ter oferecido o texto do ‘Pai-Nosso’, entre as sete expressões usadas frise precisamente a do perdão fraterno: «Porque, se perdoardes aos homens as suas ofensas, também o vosso Pai celeste vos perdoará a vós. Se, porém, não perdoardes aos homens as suas ofensas, também o vosso Pai não vos perdoará as vossas» (Mt 6, 14-15). Mas isto é forte! Eu penso: algumas vezes ouvi quem disse: ‘Nunca perdoarei aquela pessoa! Nunca perdoarei o que me fez!’. Mas se tu não perdoares, Deus nunca te perdoará. Fechas a porta. Pensemos se nós somos capazes de perdoar ou se não perdoamos […]. Ainda em Mateus, encontramos outra parábola muito intensa dedicada ao perdão fraterno (cf. 18, 31-35). Ouçamo-la. Havia um servo que tinha contraído uma dívida enorme com o seu rei: dez mil talentos! Uma quantia impossível de restituir; não sei quanto seria hoje, mas centenas de milhões. Mas aconteceu o milagre, e aquele servo não obtém um prazo mais longo para pagar, mas o perdão total. Uma graça inesperada! Mas eis que precisamente aquele servo, logo a seguir, se volta contra um seu irmão que lhe deve cem denários — pouca coisa — e, mesmo sendo esta uma quantia acessível, não aceita desculpas nem súplicas. Por isso, no final, o dono chama-o e condena-o. Pois se não te esforças por perdoar, não serás perdoado; se não te esforças por amar, também não serás amado. Jesus insere nas relações humanas a força do perdão. Na vida nem tudo se resolve com a justiça. Não. Sobretudo onde se deve pôr um limite ao mal, alguém tem que amar além do devido, para recomeçar uma história de graça. O mal conhece as suas vinganças, e se ele não for interrompido corre o risco de se alastrar sufocando o mundo inteiro. Jesus substitui a lei de talião — o que me fizeste, eu restituo-te — com a lei do amor: aquilo que Deus fez a mim, eu restituo-o a ti! Pensemos hoje, nesta semana de Páscoa tão bonita, se eu sou capaz de perdoar. E se não me sentir capaz, devo pedir ao Senhor que me conceda a graça de perdoar, pois saber perdoar é uma graça. Deus concede a cada cristão a graça de escrever uma história de bem na vida dos seus irmãos, especialmente daqueles que fizeram algo desagradável e errado. Com uma palavra, um abraço, um sorriso, podemos transmitir aos outros aquilo que recebemos de mais precioso. Qual é a coisa preciosa que recebemos? O perdão, que devemos ser capazes de dar também aos demais”.

Papa Francisco, Audiência geral, 24/04/2019