Dom José Falcão de Barros comenta o Catecismo da Igreja Católica. Reflete sobre a frase “Perdoai-nos as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido”, da oração do Pai Nosso, e um texto de Tertuliano:

“É óbvio que, depois de venerar a generosidade de Deus, roguemos também a sua clemência. De que nos serviria o alimento, se, aos olhos de Deus, não fôssemos senão como um touro a engordar para ser sacrificado? O Senhor sabe que só Ele é sem pecado. É por isso que ele nos ensina a pedir: ‘Perdoa-nos as nossas dívidas’. Pedir perdão já é uma confissão, pois quem pede perdão, confessa ter pecado. Assim, a penitência se revela agradável a Deus, porque ele a prefere à morte do pecador. Na Escritura, a palavra ‘dívida’ significa pecado, no sentido de se faltar ao dever. Ao juiz submete-se esta dívida, cujo pagamento é exigido por ele. Só se pode escapar ao pagamento da dívida se o juiz a perdoar. Como o caso daquele servo a quem o patrão perdoou sua dívida (Mt 18,23-35). A parábola inteira é um exemplo do que dizemos. O senhor liberta o servo da sua dívida, mas este, por sua vez, não perdoa ao seu devedor. Acusado junto do seu patrão, é entregue ao algoz até que pague o último centavo, isto é, até mesmo pela falta mais leve. Tudo isso tem o mesmo sentido daquilo que afirmamos: ‘Perdoamos aos nossos devedores’. Em outro lugar, o Senhor diz, empregando as mesmas palavras desta oração: ‘Perdoai e vos será perdoado’ (Lc 6, 37). E, quando Pedro perguntou se devia perdoar sete vezes ao irmão, o Senhor respondeu: ‘Mais ainda, setenta e sete vezes’ (Mt 18,21-22). Deste modo, o Senhor aperfeiçoava a Lei, visto que no livro do Gênesis se declara que Caim será vingado sete vezes e Lamec setenta e sete” (Gn 4,15.24)

Tertuliano, De oratione, 7 (PL 1, 1162-1163)