Dom José Falcão de Barros reflete sobre a frase “Seja feita a Vossa vontade assim na terra como no céu”, da oração do Pai Nosso, a partir de um texto de Teodoro de Mopsuestia:
“A vontade de Deus se faz ‘na terra como no céu’ se neste mundo nos esforçamos, quanto seja possível, por imitar a conduta que esperamos praticar no céu, pois no céu nada há contra Deus. Pede-se a nós, portanto, ser fiéis neste mundo à vontade de Deus quanto possível, sem nos separar dela, mas segui-la como cremos ser cumprida no céu. A nós se pede, da mesma forma, porquanto se refere à nossa vontade e consciência, não ter qualquer afeto contrário (a essa vontade). É possível que nossa vontade se afaste dos afetos opostos a Deus, sem aceitar nenhum deles, se fizermos o que prescreve o Apóstolo Paulo: ‘Não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos pela renovação do vosso espírito, para que possais discernir qual é a vontade de Deus, o que é bom, o que lhe agrada e o que é perfeito’ (Rm 12, 2). Não prescreve que as paixões não mais se levantem, mas que não nos modelemos segundo o que se dissolverá com as coisas desse mundo; que nossa vontade não se conforme à vida deste mundo, mas que lute contra os acontecimentos, penosos ou agradáveis, gloriosos ou ignominiosos, que elevam ou rebaixam; que lute sobretudo contra os que podem fazer-nos cair em pensamentos contrários a Deus e separar o nosso coração de querer o bem. Esforcemo-nos para que o nosso afeto não caia nisto, renovando nossos pensamentos mediante uma correção diária; rechacemos os danos que nos fazem as paixões deste mundo e elevemos cada dia nossa vontade àquilo que é virtuoso, ao que agrada a Deus. Estimemos como desprezíveis os prazeres daqui de baixo, suportemos as tribulações e prefiramos a tudo a vontade de Deus, julgando-nos ditosos, se a cumprimos, porém, miseráveis e vis, se não a fazemos”.
Teodoro de Mopsuestia, Homilia 11, 12-13