Dom José Falcão de Barros reflete sobre a frase “Seja feita a Vossa vontade assim na terra como no céu”, da oração do Pai Nosso, a partir de um texto de Santo Tomás de Aquino:

“Quando dizemos a Deus: ‘Seja feita a vossa vontade’, é como se fôssemos doentes que aceitam o remédio amargo, prescrito pelo médico. O doente não quer tal remédio, mas aceita a vontade do médico; do contrário, seguindo só sua vontade, seria um insensato. Da mesma maneira, não devemos pedir a Deus nada além do Seu querer, isto é, a realização de Sua vontade em nós. Mas qual é a razão de ser desta oração: ‘Seja feita a vossa vontade?’ Não se diz a Deus, no Salmo 115, 3: Tudo quanto quis, fez? Se Deus faz tudo que quer no céu e na terra, por que diz Jesus: ‘Seja feita a vossa vontade assim na terra como no céu?’ Para compreender a causa deste pedido é preciso saber que Deus quer para nós três coisas que realizamos nesta oração:
a) Em primeiro lugar, Deus quer que tenhamos a vida eterna. Quando alguém faz alguma coisa visando a um determinado fim, quer que ela atinja tal fim. Ora, Deus não fez o homem sem um fim determinado. Diz o Salmo 89(88), 48: “Acaso criastes em vão todos os filhos dos homens?” Deus criou os homens para um fim que não são as volúpias, pois estas também as têm os animais. Deus quis que o homem alcançasse a vida eterna. Quando alguma coisa atinge o fim para que foi feita, diz-se que está salva; quando não atinge, diz-se que está perdida. Ora, o homem é feito por Deus para a vida eterna. Quando ele chega lá, está salvo; e esta é a vontade de Deus para ele. “Esta é a vontade do Pai que me enviou: que o que vir o Filho e crer nele, tenha a vida eterna” (Jo 6, 40). Esta vontade já se cumpriu nos anjos e santos, que vivem na pátria celeste, pois veem a Deus, o conhecem e gozam dele. Mas nós desejamos que, assim como a vontade de Deus se cumpre nos Bem-aventurados que estão no céu, se cumpra também em nós que estamos na terra. Por isso, pedimos na oração: “Seja feita a vossa vontade” em nós, que estamos na terra, como nos Santos, que estão no céu.
Santo Tomás de Aquino, In orationem dominicam, 44-51