Dom José Falcão de Barros reflete sobre a frase “Seja feita a Vossa vontade assim na terra como no céu”, da oração do Pai Nosso, a partir de um texto de Santo Tomás de Aquino:
“Quanto a nós, Sua vontade é que cumpramos Seus mandamentos. Quando dizemos ‘Seja feita a vossa vontade’, pedimos a graça de observar os mandamentos de Deus. Ora, a vontade de Deus se cumpre nos justos, mas ainda não nos pecadores. Os justos são designados pelo céu e os pecadores pela terra. Pedimos, pois, que a vontade de Deus seja feita na terra, isto é, nos pecadores, como é feita no céu, nos justos. Notemos que Jesus, com o próprio modo de formular o terceiro pedido do “Pai Nosso”, nos dá um ensinamento: Jesus não nos faz dizer a nosso Pai: ‘fazei a vossa vontade’, nem tampouco ‘que nós façamos a vossa vontade’, mas sim: ‘Seja feita a vossa vontade’. Com efeito, duas coisas são necessárias para alcançarmos a vida eterna: a graça de Deus e a vontade do homem. Apesar de Deus ter criado o homem sem chamá-lo a cooperar na criação, não o justifica, no entanto, sem a cooperação dele. ‘Aquele que te criou sem ti, não te justificará sem ti’, diz Santo Agostinho, em seu comentário sobre São João. Realmente, Deus quer esta cooperação do homem. Convertei-vos a mim, e eu me converterei a vós (Zc 1, 3), diz Ele em Zacarias; e São Paulo escreveu: ‘Pela graça de Deus sou o que sou e sua graça não tem sido vã em mim’ (1Cor 15, 10). Não sejais presumidos, mas confiai na graça de Deus; não negligencieis o vosso esforço, mas trazei vossa cooperação. É por isso que Jesus não nos manda dizer ‘que nós façamos a vossa vontade’, do contrário pareceria que a graça de Deus não tem nada para fazer. Também não prescreve ‘Fazei a vossa vontade’, senão pareceria que nossa vontade e nosso esforço não servem para nada. Mas Jesus nos faz dizer: ‘Seja feita a vossa vontade’, pela graça de Deus, à qual juntamos nosso trabalho e nosso esforço.
Santo Tomás de Aquino, In orationem dominicam, 44-51