Dom José Falcão de Barros reflete sobre a frase “Venha a nós o Vosso Reino, da oração do Pai Nosso, e um texto de São Cirilo de Alexandria.

“Deus é rei desde o princípio (cf. Sl 74[73], 12). Uma vez que Deus reina e domina o universo desde sempre, com que finalidade oferecem suas orações os que chamam Deus Pai e dizem: ‘Venha o teu reino’? Parece que desejam ver de novo Cristo, Salvador de todos nós, aparecer no mundo. Certamente virá; virá e descerá como juiz, não mais semelhante à nossa condição humilde, na pequenez da humanidade, mas na glória própria de Deus, habitando em luz inacessível (1Tm 6, 16), rodeado de anjos. Assim se disse em alguma parte que o Filho do Homem virá na glória de seu Pai, com seus santos anjos (cf. Mt 16, 27). […] Esse tribunal é terrível; o juiz não faz acepção de pessoas. Será o tempo da defesa, porém, sobretudo da prova e do prêmio: o fogo iníquo está preparado, o castigo duradouro e o tormento eterno. Como se pode rezar para vir aquele tempo? Certamente aos que levam uma vida pecaminosa de iniquidade e impureza, luxuriosa e totalmente viciada, não lhes convém absolutamente dizer nas orações: ‘Venha o teu reino’. […] Ao contrário, os santos pedem que venha o tempo em que reine perfeitamente o nosso Salvador, porque trabalharam como convém e com boa consciência buscam o prêmio das obras realizadas. O mesmo que aqueles que esperam uma festa ou alegria próxima, que pouco a pouco se aproxima, estão sedentos pela sua chegada, assim também esses santos; confiam que permanecerão de pé, gloriosos, diante do juiz, a quem escutarão dizer: Vinde, benditos de meu Pai, tomai posse do reino preparado para vós desde a criação do mundo (Mt 25, 34). Estavam seguros do que Ele dissera, acerca da consumação do mundo, que os justos brilharão como o sol no reino de seu Pai (Mt 13, 43). Com razão, portanto, os que rezam podem dizer: ‘Venha o teu reino’, porque estão seguros de receber o prêmio de sua fortaleza e de conseguir a perfeição de sua esperança” (São Cirilo de Alexandria, In Evangelium Secundum Lucam, 11, 2 – PG 72, 690-691).