Dom José Falcão de Barros reflete sobre a frase “Venha a nós o Vosso Reino, da oração do Pai Nosso, e um texto de Santo Tomás de Aquino).

Santo Tomás de Aquino, In orationem dominicam, 35-42: Segundo: o reino dos céus designa a glória do paraíso. Não há nisto nada de espantoso, pois o reino quer dizer, simplesmente, governo. Um governo atinge seu mais alto grau de excelência quando nada se opõe à vontade de quem governa. Ora, a vontade de Deus é a salvação dos homens, pois Deus quer que todos os homens se salvem (cf. 1Tm 2, 4). Esta vontade divina se realizará principalmente no paraíso, onde nada é contrário à salvação dos homens, pois o Senhor diz: Os anjos lançarão fora de seu reino todos os escândalos (Mt 13, 14). Neste mundo, ao contrário, abundam os obstáculos, para a salvação dos homens. Quando, pois, pedimos a Deus: «venha a nós o vosso reino», rezamos para que, triunfando sobre esses obstáculos, sejamos participantes de seu reino e da glória do paraíso. Três motivos tornam este reino extremamente desejável. Primeiro, pela soberana justiça deste reino. Falando de seus habitantes, o Senhor diz a Isaías que todos são justos (Is 60, 21). Aqui, os maus estão misturados com os bons, mas lá não haverá nem maus nem pecadores. Segundo, pela perfeita liberdade dos eleitos. Aqui na terra, todos desejam a liberdade, sem possuí-la plenamente. Mas no céu se goza de uma plena e inteira liberdade, sem a menor servidão. Diz-nos São Paulo: A própria criação será libertada do cativeiro da corrupção, para a gloriosa liberdade dos filhos de Deus (Rm 8, 21). E não somente todos os eleitos possuirão a liberdade, mas serão reis, segundo o Apocalipse: Fizeste-nos reis e sacerdotes e reinaremos sobre a terra (Ap 1, 6). Serão todos reis, porque terão, como Deus, uma só vontade. Deus quererá o que os santos querem e os santos quererão o que Deus quer. Assim, todos reinarão porque farão a vontade de todos e Deus será a coroa de todos, segundo Isaías: Naquele dia, o Senhor dos exércitos será a coroa da glória e a grinalda de exultação para o resto de seu povo (Is 28, 5). Terceiro, pela maravilhosa abundância de seus bens. Diz Isaías ao Senhor: O olho não viu, exceto tu, ó Deus, o que tens preparado para aquele que te esperam (Is 64, 4). E o Salmista: Enches de bens, segundo o teu desejo (Sl 103[102], 5). E é preciso notar que «só em Deus» o homem achará a excelência e a perfeição daquilo que procura, «neste mundo». Se procurais o deleite, em Deus achareis o deleite supremo. Se procurais riquezas, em Deus achareis a superabundância de tudo de que tendes necessidade e tudo que é razão de ser das riquezas. O mesmo acontece com os outros bens. Santo Agostinho reconhecia em suas Confissões: «A alma que fornica, ao afastar-se de vós, procurando os bens fora de vós, só os encontrará límpidos e puros se voltar para vós» (Santo Tomás de Aquino, In orationem dominicam, 35-42).