Dom José Falcão de Barros explica o Catecismo da Igreja Católica. Reflete passagens bíblicas, a frase “Venha a nós o Vosso Reino”, da oração do Pai Nosso, e um texto de Orígenes: “O Reino de Deus, conforme as palavras de nosso Senhor e Salvador, não vem visivelmente, nem se dirá: Ei-lo aqui ou ei-lo ali; mas o reino de Deus está dentro de nós (Lc 17, 20-21), pois a palavra está muito próxima de nossa boca e em nosso coração (Rm 10, 8). Donde se segue, sem dúvida nenhuma, que quem reza pedindo a vinda do reino de Deus pede – justamente por ter em si um início deste reino – que ele desponte, dê frutos e chegue à perfeição. Pois Deus reina em todo o santo e quem é santo obedece às leis espirituais de Deus, que nele habita como em cidade bem administrada. Nele está presente o Pai e, junto com o Pai, reina Cristo na pessoa perfeita, segundo as palavras: Viremos a ele e nele faremos nossa morada (Jo 14, 23). Então o reino de Deus, que já está em nós, chegará por nosso contínuo adiantamento à plenitude, quando se completar o que foi dito pelo Apóstolo: sujeitados todos os inimigos, Cristo entregará o reino a Deus e Pai, a fim de que Deus seja tudo em todos (1Cor 15, 24.28). Por isto, rezemos sem cessar, com aquele amor que, pelo Verbo, se faz divino; e digamos a nosso Pai que está nos Céus: Santificado seja teu nome, venha o teu reino (Mt 6, 9-10). É de se notar também a respeito do reino de Deus: da mesma forma que não há participação da justiça com a iniquidade nem sociedade da luz com as trevas nem pacto de Cristo com Belial (2Cor 6, 14-15), assim o reino de Deus não pode subsistir junto com o reino do pecado. Por conseguinte, se queremos que Deus reine em nós, de modo algum reine o pecado em nosso corpo mortal (Rm 6, 12), mas mortifiquemos nossos membros que estão na terra (Cl 3, 5) e produzamos fruto no Espírito. Passeie, então, Deus em nós como em paraíso espiritual, e reine só ele, junto com seu Cristo; e que em nós se assente à destra de sua virtude espiritual, objeto de nosso desejo. Assente-se até que seus inimigos todos que existem em nós sejam reduzidos a escabelo de seus pés (Sl 99[98], 5), lançados fora todo principado, potestade e virtude. Tudo isto pode acontecer a cada um de nós e ser destruída a última inimiga, a morte (1Cor 15, 26). E Cristo diga também dentro de nós: Onde está, ó morte, teu aguilhão? Onde está, inferno, tua vitória? (1Cor 15, 55 [cf. Os 13, 14]). Já agora, portanto, o corruptível em nós se revista de santidade e incorruptibilidade e, destruída a morte, vista imortalidade paterna (cf. 1Cor 15, 54), para que, reinando Deus, vivamos dos bens do novo nascimento e da ressurreição” (Orígenes, De oratione, 25 (PG 11, 495-499).