Dom José Francisco Falcão de Barros continua a introdução aos Salmos. Questiona sobre as diferenças entre Salmos e Cânticos; cita textos de Santo Agostinho:
Alguns comentadores antes de nós distinguiram os Salmos dos Cânticos. Tendo em vista que o Cântico é oral, e o Salmo é acompanhado de instrumento visível, isto é, do saltério, parece que o Cântico representa o entendimento do espírito, enquanto o Salmo representaria as obras corporais. Assim, neste Salmo sexagésimo sétimo, que agora empreendemos comentar, o versículo: “Cantai a Deus, salmodiai a seu nome”, foi interpretado por alguns com uma distinção. Parece ter sido dito: “Cantai a Deus”, porque aquilo que a mente opera em si mesma é conhecido de Deus, mas não é visto pelos homens. Quanto às boas obras, uma vez que devem ser vistas pelos homens para que glorifiquem nosso Pai que está nos céus (Mt 5, 16), com justeza foi dito: “Salmodiai a seu nome”, isto é, sejam divulgadas, para que o Pai seja nomeado com louvores. Quanto me lembro, eu também, em outro lugar, segui esta interpretação. Lembro-me de que nós também lemos: “Salmodiai a Deus” (Sl 46, 7) assim: Agradam as nossas boas obras visíveis não apenas aos homens, mas também a Deus. Pois, nem tudo o que apraz a Deus agrada também aos homens, que não o podem ver. Daí ser de admirar que se leiam ambas as expressões: “Cantai a Deus e salmodiai a Deus”, como também em outro lugar: “Cantai a seu nome”. Se também isto se encontra nas Sagradas Escrituras, foi inútil estabelecer uma diferença. Impressiona-me também que, em geral, sejam chamados Salmos de preferência a Cânticos. Assim, o Senhor disse: “Tudo o que está escrito sobre mim na Lei, nos Profetas e nos Salmos” (Lc 24, 44). O próprio livro é dito: dos Salmos, não: dos Cânticos. Ele declarou: “Pois está escrito no livro dos Salmos” (At 1, 20), enquanto era preferível, conforme esta diferença, chamar de Cânticos, uma vez que um Cântico pode existir sem ser Salmo, mas o Salmo sem Cântico não existe. Com efeito, podem existir cogitações da mente, sem serem acompanhadas de obras corporais; nenhuma boa obra, porém, é realizada sem que haja antes ideia na mente. Por isso, ambos são Cânticos, mas não Salmos. Contudo, conforme disse, geralmente são chamados de Salmos, não de Cânticos; e livro dos Salmos, não dos Cânticos. E se entendemos e discutimos o sentido das palavras, onde no título se encontra somente: “Salmo”, e onde apenas: “Cântico” e onde não está: “Salmo de Cântico”, como no presente título, mas “Cântico de Salmo”, não sei se é possível falar de diferença”
Santo Agostinho (354-430)
Enarrationes in Psalmos, 67, 1
“O Salmo, de fato, é um canto, não de qualquer espécie, mas com o saltério. O saltério é um instrumento de música como a lira, a cítara, e outros instrumentos feitos para o canto. Por isso, quem salmodia, não salmodia apenas com a voz; mas, tomando certo instrumento, denominado saltério, toca-o com as mãos, concordando com a voz. Queres, então salmodiar? Não apenas tua voz cante os louvores de Deus, mas tuas obras concordem com tua voz. Ao cantares com a voz, de vez em quando te calas. Canta com a vida, de tal forma que jamais te cales. Estás fazendo um negócio, e planejas uma fraude: o louvor de Deus se calou; e o que é mais grave, não apenas calaste o louvor, mas partiste para uma blasfêmia. Se Deus é louvado em vista de tua boa obra, louvas a Deus com a tua obra; e quando Deus é blasfemado por causa de teus malfeitos, com tua obra blasfemas contra Deus. Por isso, para uma exortação que os ouvidos apreendam, canta com a voz; mas não cale o coração, não cale a vida. Se num negócio não planejas fraude, salmodias a Deus. Ao comeres e beberes, salmodias. Não mistures a isto as suavidades dos sons agradáveis aos ouvidos, mas come e bebe, modesta e frugalmente com temperança, porque assim se pronuncia o Apóstolo: “Quer comais, quer bebais, quer façais qualquer outra coisa, fazei tudo para a glória de Deus” (1Cor 10, 31). Se, portanto, tu te comportas bem ao comer, beber e tomar alimento para refeição do corpo e reparação dos membros, dando graças àquele que te ofereceu estes alívios suplementares, a ti mortal e frágil, teu alimento e tua bebida louvam a Deus. Se, contudo, excedes por imoderada voracidade a medida devida à natureza, e te embriagas de vinho, por mais que tua língua profira louvores a Deus, tua vida blasfema. Depois da comida e bebida, descansas e dormes; no leito nada faças de torpe, nem excedas indo além do que permite a lei de Deus. Seja casta a união com tua esposa; e se cuidas da procriação dos filhos, não haja desenfreada luxúria; trata com deferência tua cônjuge no leito, porque ambos sois membros de Cristo (1Cor 6, 15), ambos criados por Ele, ambos resgatados por seu sangue; agindo assim louvas a Deus e teu louvor não calará. E quando o sono vier? Enquanto dormes, tua consciência pesada não te tire do repouso; e pela inocência do sono louva a Deus. Se, portanto, louvas, não canta apenas com a língua, mas toma também o saltério das boas obras, “porque é bom salmodiar”. Louvas quando tratas de um negócio, louvas ao tomares alimento e bebida, louvas quando descansas no leito, louvas quando dormes; quando não louvas? O louvor de Deus será perfeito em nós, ao chegarmos àquela cidade, quando nos tivermos tornado iguais aos anjos de Deus: quando nenhuma necessidade corporal nos solicitar de parte alguma (Mt 22, 30), nem nos ataque a fome e a sede, o calor nos canse, o frio não nos enrijeça, a febre não nos abata, nem a morte seja um termo. Exercitemo-nos para aquele louvor perfeitíssimo por meio deste louvor através das boas obras”
Santo Agostinho (354-430)
Enarrationes in Psalmos, 146, 2
Luz da Vida:
O programa Luz da Vida nasceu da necessidade de proclamar o nome santo de nosso Senhor Jesus Cristo, de levar a todos os corações a certeza de que não existe outro nome debaixo do céu pelo qual devamos ser salvos: Jesus Cristo.
“Eu sou a luz do mundo; aquele que me segue não andará em trevas, mas terá a luz da vida” (Mt 8, 12). Foi essa passagem bíblica que inspirou a criação e o nome do programa, que tem uma finalidade simples e audaciosa: apresentar Jesus Cristo como Caminho, Verdade e Vida. Como Luz que ilumina a vida de todos nós.
A cada programa, Dom José Falcão de Barros apresenta um tema diferente, abordando questões espirituais e materiais da vida hodierna, à luz do Evangelho de Jesus Cristo, da doutrina, do magistério e da tradição da Igreja Católica Apostólica Romana.