Os salmos na nossa vida – Salmo 7 – Apelo à justiça de Deus


Dom José Francisco Falcão de Barros
reflete o Salmo 7,15-16. Cita textos de Santo Agostinho e São João Crisóstomo:

“Eis que o mau está em dores de parto, concebe a malícia e dá à luz a mentira”
Salmo 7,15

“Virá o justo juízo. A respeito deste, o salmista se exprime de maneira a entendermos que a cada um se torna suplício o seu próprio pecado e a sua iniquidade se converte em castigo. Não pensemos que venha o castigo da tranquilidade e luz inefável de Deus, e sim que Ele de tal maneira dispõe acerca dos pecados que os prazeres do pecador se transformam em instrumentos de Deus para punir”.

“Concebe a malícia”. O que havia o pecador concebido para gerar a injustiça? “Concebeu o trabalho”. Daí, pois, a palavra: “Comerás o teu pão em trabalhos” (Gn 3, 17); e ainda: “Vinde a mim todos os que estais cansados sob o peso do vosso fardo. O meu jugo é suave e o meu fardo é leve” (Mt 11, 28.30). O trabalho não pode ser abolido, a menos que ame cada um só o que não lhe pode ser tirado contra a vontade. Pois, se amamos o que a contragosto podemos perder, forçoso é sofrermos miseravelmente por causa disso”.

“E para o obtermos, em meio às angústias e tribulações terrenas, enquanto deseja cada um arrebatá-las e passar à frente dos outros, ou extorqui-las de alguém, planejam-se injustiças. Com razão, portanto, e em perfeita ordem se afirma que quem concebeu o trabalho deu à luz a injustiça. O que é que dá à luz senão aquilo que foi gerado, embora não tenha gerado aquilo que concebeu? Pois, não nasce o que foi concebido; mas é concebido o sêmen, nasce o que é formado do sêmen”.

“O trabalho é, por conseguinte, o germe da iniquidade; o pecado, porém, é a conceição do trabalho, a saber, aquele primeiro pecado, a apostasia cometida contra Deus (Eclo 10, 14). Gerou, portanto, a injustiça quem concebeu o trabalho. “E pariu a iniquidade”. Iniquidade é o mesmo que injustiça. Deu, pois, à luz o que gerou”.

Santo Agostinho (354-430)
Enarrationes in Psalmos, 7, 16

 

“Aqui se mostra que a injustiça não a temos por natureza, mas que é algo exterior ao homem. Por isso, é algo pesado e, até que nos livremos dela, sentiremos dores. O embrião, até que se forme, permanece no ventre segundo a natureza; por isso, não causa dor. Porém, tendo sido formado, se permanece no ventre, é uma demora além da natureza”.

“Daí surgem as dores de parto: a natureza atormentada obriga a criança a sair, pois não pode mais suportar o que foi preparado e já está devidamente completado. Ali, certamente, primeiro teve lugar a concepção, depois a dor do parto; porém, aqui, primeiro sentiu dores de parto; depois, concebeu e deu a luz”.

“Que se pode dizer? Ali a dor aparece no momento do parto, mas aqui há dor desde o princípio. Quando alguém pensa no mal, inclusive antes de conceber o pensamento, sua mente experimenta agitação e perturbação. Na mulher, depositado o sêmen uma só vez, modela-se conforme a disposição do parto; porém, naqueles que maquinam enganos, hoje deposita-se um determinado pensamento, amanhã de novo outro”.

“Assim, são inúmeras as maldades que os perversos depositam em si, as maquinações diárias e as dores de parto que arruínam o pensamento. Porém, esse parto não é como o das mulheres, mas como o das serpentes, que destroem o ventre da mãe, dando à luz os filhos dos lados estraçalhados; assim também nas mentiras e na injustiça”.

São João Crisóstomo (347-407)
Comentário aos Salmos, 7, 13, 4-14,1

 

“Abre um fosso profundo, mas cai no abismo por ele mesmo cavado”
Salmo 7,16

“Abriu um fosso profundo”. Abrir uma fossa é, nas coisas terrenas, como se fosse na terra preparar uma armadilha para aquele a quem o injusto quer enganar. Abre-se tal fossa quando alguém consente na má sugestão das ambições terrenas”.

“Escava-se quando, após o consentimento, se insiste em perpetrar a fraude. Mas, como é possível que a iniquidade prejudique o justo contra quem age, e não tanto o coração do injusto donde procede? Quem comete desfalque, por exemplo, enquanto visa a causar dano a outrem, abre em si a ferida da avareza. Quem é tão louco que não percebe a enorme diferença entre o que sofre prejuízo monetário e o que é lesado na inocência?”

“Cai no abismo por ele mesmo cavado”. É idêntico ao que diz outro Salmo: ‘O Senhor dá-se a conhecer quando faz justiça. O pecador ficou preso nas obras de suas mãos'” (Sl 9, 17).

Santo Agostinho (354-430)
Enarrationes in Psalmos, 7, 17

 

“Também corresponde à benevolência de Deus atribuir tal natureza à insídia, de modo que, quando aqueles que cometem truques são apanhados na rede, também desistam de lutar e conspirar contra seu próximo. O mesmo aconteceu com Moisés: quem ia morrer se salvou e o Faraó pereceu no caminho que havia maquinado contra os filhos de Israel”.

“Na verdade, ao ordenar que as crianças fossem mortas, obrigou a mãe de Moisés a abandonar o recém-nascido por medo (assim a filha do faraó recolhe um cesto de junco e, encontrando o recém-nascido, alimentou-o); e este, depois de crescer, os perdeu a todos eles. Aqui também a capacidade de Deus brilha mais, sendo maior punição para os maus e júbilo para os que se afastam deles”.

“Desta forma também aconteceu ao justo José. Quando seus irmãos o venderam como escravo, ele sofreu o que sofreu, e verdadeiramente nada o prejudicou, antes até o beneficiou; na verdade, foram eles que sofreram aquela tragédia. Como estas, muitas outras coisas podem ser ditas. Leva em consideração também outras coisas”.

“Alguém defraudou? Perdeu-se a si mesmo. Pois, na verdade quem frauda muitas vezes prejudica a si mesmo ele mesmo e trai sua alma. Alguém foi injusto? A si mesmo se esfaqueou com a adaga. O pior sofrimento não é sentir os males, mas praticá-los. É por isso que Paulo também aconselhou mais sofrer injúrias do que causá-las (cf. 1Cor 6, 7-8); e o mesmo Cristo [aconselha] aquele que recebe bofetadas a não retribuí-las, mas oferecer-se para sofrê-las” (cf. Mt 5, 39).

“Esta é a melhor resistência, o que produz paciência, fortalece a alma e nos coloca acima das paixões. Pois quem insulta o outro, rindo ou com arrogância, em primeiro lugar é ele mesmo quem, vencido pela paixão, é reduzido à escravidão, porque embora pareça que ele insultou o próximo, todavia prejudicou-se ainda mais, reduzindo-se à servidão extrema”.

São João Crisóstomo (347-407)
Comentário aos Salmos, 7, 14, 2

 

Luz da Vida:
O programa Luz da Vida nasceu da necessidade de proclamar o nome santo de nosso Senhor Jesus Cristo, de levar a todos os corações a certeza de que não existe outro nome debaixo do céu pelo qual devamos ser salvos: Jesus Cristo.

“Eu sou a luz do mundo; aquele que me segue não andará em trevas, mas terá a luz da vida” (Mt 8, 12). Foi essa passagem bíblica que inspirou a criação e o nome do programa, que tem uma finalidade simples e audaciosa: apresentar Jesus Cristo como Caminho, Verdade e Vida. Como Luz que ilumina a vida de todos nós.

A cada programa, Dom José Falcão de Barros apresenta um tema diferente, abordando questões espirituais e materiais da vida hodierna, à luz do Evangelho de Jesus Cristo, da doutrina, do magistério e da tradição da Igreja Católica Apostólica Romana.