Os salmos na nossa vida – Salmo 7 – Apelo à justiça de Deus


Dom José Francisco Falcão de Barros
reflete o Salmo 7,17-18. Cita textos de Santo Agostinho e São João Crisóstomo:

“Sua malícia recairá em sua própria cabeça, e sua violência se voltará contra a sua fronte”
Salmo 7,17

“‘Sua malícia recairá em sua própria cabeça, e sua violência se voltará contra a sua fronte’. O pecador não quis fugir do pecado, mas tornou-se escravo dele, conforme declara o Senhor: ‘Quem comete o pecado, é escravo’ (Jo 8, 34). Sua iniquidade, portanto, estará sobre ele, e a esta o pecador se submete, porque não pôde dizer ao Senhor como os inocentes e retos: ‘Minha glória. Exaltas a minha cabeça’ (Sl 3, 4). Assim, ficará em posição inferior, de sorte que a iniquidade fique por cima e sobre ele descerá. Pesa sobre ele, onera-o, não lhe permite voar ao repouso dos santos. Tal acontece se no perverso a razão for serva e a concupiscência dominar”.

Santo Agostinho (354-430)
Enarrationes in Psalmos, 7, 18

 

“‘Sua malícia recairá em sua própria cabeça, e sua violência se voltará contra a sua fronte’. Tais coisas se dizem de Aquitofel e Absalão: sobre a cabeça de um e do outro recaiu o castigo. Aquele se enforcou, dando fim à sua vida (cf. 2Sm 17, 23). Absalão, passando debaixo de uma árvore, foi apanhado pela sua cabeleira, e ficou lá por muito tempo (cf. 2Sm 18, 9). Também Judas acabou com a vida na forca, sabendo que tudo foi feito em detrimento de sua cabeça” (cf. At 1, 18).

Aquitofel, compreendendo perfeitamente que Davi venceria, se enforcou; Absalão, porém, foi enforcado à força e não foi tirado dali no mesmo instante, mas, como num julgamento, foi primeiro suspenso e somente depois foi cravado com adagas, e perante a sentença divina Deus que veio do alto, esteve pendurado por um longo tempo, flagelado pela sua consciência. Ele queria esganar com a mão direita na garganta de seu pai, e o pai implorou aos soldados para perdoá-lo (cf. 2Sm 18, 5). [Davi] estava tão longe da vanglória que mesmo depois da morte do filho o pranteou-o” (cf. 2Sm 19, 1).

“E para que aprendas que o que aconteceu não foi um fato humano, mas um julgamento totalmente divino, amarraram seu cabelo ao tronco e foi entregue como um ser irracional: o cabelo servia de corda; a árvore servia de madeira; e um asno o conduziu diante dos soldados. Vede que fato admirável! Sofrendo esses acontecimentos, ninguém do seu povo ousou chegar até ele para libertá-lo, mesmo com muito tempo para fazê-lo. Deus planejou precisamente isto: que não fosse abatido nem fosse levado derrotado diante de seu pai, porque as entranhas paternas o perdoariam; e – o que é mais admirável – quem reconciliou o pai com ele, seria o mesmo que o mataria, como um acusador que ameaça com veemência: certamente, foi este Joab que o matou (cf. 2Sm 18, 14), mas foi Deus quem impôs a sentença”.

São João Crisóstomo (347-407)
Comentário aos Salmos, 7, 14, 3-4

“Eu, porém, confessarei o Senhor por sua justiça, e salmodiarei ao nome do Senhor, o Altíssimo”
Salmo 7,18

“‘Eu, porém, confessarei o Senhor por sua justiça…’ Trata-se da confissão da justiça de Deus, a respeito da qual assim falamos: Na verdade, Senhor, tu és justo, ao protegeres os justos de tal modo que por ti mesmo os iluminas, e dispões acerca do pecador de sorte que fique assim punida a malícia que é deles, não tua. Essa declaração louva tanto o Senhor que nada podem as blasfêmias dos ímpios, os quais, procurando escusar os próprios crimes, não querem atribuir os pecados à sua própria culpa, isto é, não querem que a culpa seja sua”.

“Por tal motivo, encontram meios de acusar a sorte, ou o fado, ou o diabo, a cujas tentações podemos não consentir, conforme quis nosso Criador; ou inventam que existe outra natureza, não oriunda de Deus, esses infelizes hesitantes e errados, ao invés de louvarem a Deus, pedindo que os perdoe. Não convém seja perdoado senão aquele que confessa: Pequei. Quem vê, pois, Deus classificar os méritos das almas de tal maneira que, dando a cada um o que é seu, não se altere absolutamente a beleza do universo, em tudo dá louvor a Deus. Esta confissão não é própria de pecadores e sim de justos. Não se trata de confissão de pecados quando o Senhor diz: ‘Eu te confesso, ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque ocultaste estas coisas ao sábios e doutores e as revelaste aos pequeninos'” (Mt 11, 25).

“Também diz o Eclesiástico: ‘Confessai o Senhor por todas as suas obras. Assim direis em seu louvor: Todas as obras do Senhor são magníficas’ (Eclo 39, 14.16). É possível assim interpretar este Salmo se alguém, com mente piedosa, auxiliado pelo Senhor, distinguir entre os prêmios dos justos e os suplícios dos pecadores, e, como que através destas duas espécies de pessoas, o universo criado por Deus é ornado de maravilhosa beleza, de poucos conhecida”.

“Disse o salmista: Confessarei ao Senhor pela sua justiça, como alguém que não sabe terem sido as trevas feitas por Deus, no entanto, terem sido por ele dispostas em ordem. Pois Deus disse: ‘Faça-se a luz! E a luz foi feita’ (Gn 1,3). Não disse: Façam-se as trevas e as trevas foram feitas; contudo, as dispôs em ordem. Por isso se diz: ‘Separou a luz e as trevas. Deus chamou à luz dia, e às trevas noite’ (Gn 4, 5). Eis a distinção: fez uma coisa e a pôs em ordem; não fez a outra, no entanto, a ordenou igualmente”.

“Já no profeta se acha que as trevas significam o pecado: ‘A tua noite resplandecerá como o dia pleno’ (Is 58, 10) e o Apóstolo declara: ‘O que odeia o seu irmão está nas trevas’ (1Jo 2, 11), e principalmente: ‘Deixemos as obras das trevas e vistamos a armadura da luz’ (Rm 13, 12). Não quer dizer que as trevas tenham uma natureza. Toda natureza, enquanto tal, forçosamente é um ser. O ser, porém, pertence à luz; o não ser, às trevas”.

“Quem, portanto, abandona quem o criou e se inclina para a criatura, o nada, entenebrece por causa deste pecado; todavia, não perece inteiramente, mas ocupa ínfimo lugar. O salmista, após ter proferido: ‘Confessarei o Senhor’, para não julgarmos ser confissão de pecados, acrescentou no final: ‘E salmodiarei ao nome do Senhor, o Altíssimo’. Salmodiar relaciona-se à alegria; a penitência dos pecados, à tristeza. Pode-se também aplicar este Salmo à pessoa do homem-Senhor, se relacionarmos as expressões humildes nele empregadas e nossa fraqueza, que ele assumiu”.

Santo Agostinho (354-430)
Enarrationes in Psalmos, 7, 19-20

 

“Nada nos une tanto à virtude como falar assiduamente com Deus, dar-Lhe graças continuamente e cantar Salmos a Deus. Pois bem: canta Salmos a Deus quem se admira de sua justiça e de sua paciência. Mas como falar de paciência, se Ele aniquilou o tirano? Certamente, houve grande e muita paciência. Ele lhe concedeu muito tempo para alcançar a conversão, concedeu-lhe possuir a realeza para que, vendo a casa onde cresceu e foi educado pelo zelo do seu pai, pudesse fazer penitência”.

“Se não tivesse sido uma fera e tivesse uma alma de pedra, todas estas coisas teriam sido removidas: a mesa que compartilhou com seu pai, a casa, as suas decisões e palavras teriam mudado quando ele preparava o assassinato. Junto com essas coisas havia outras que eram suficientes para acalmá-lo. Assim, ele teria ouvido falar que marchava desterrado e errante, porque sofreu males extremos”.

“Mas se nem mesmo esses acontecimentos o acalmaram, convinha que as coisas que aconteceram com Aquitofel – punição e morte – iriam levá-lo totalmente à penitência. Ele não desconhecia as coisas que aconteceram com o amigo. E o que tinha a censurar no pai para fazer tais coisas? O que o fez mudar? Era, portanto, necessário que fosse visto e demonstrado que, sendo fratricida, devia dominar-se a si mesmo”.

“Porém, não encontrando nada digno de censura [no seu pai], mas dominado por um desejo insensato, sendo o pai idoso e próximo da morte, não esperou sequer um momento. Por que ele não pensou que mesmo que vencesse, teria a vida mais miserável de todas, amaldiçoado e impuro, até pelo troféu da vitória?”

São João Crisóstomo (347-407)
Comentário aos Salmos, 7, 15, 2

 

Luz da Vida:
O programa Luz da Vida nasceu da necessidade de proclamar o nome santo de nosso Senhor Jesus Cristo, de levar a todos os corações a certeza de que não existe outro nome debaixo do céu pelo qual devamos ser salvos: Jesus Cristo.

“Eu sou a luz do mundo; aquele que me segue não andará em trevas, mas terá a luz da vida” (Mt 8, 12). Foi essa passagem bíblica que inspirou a criação e o nome do programa, que tem uma finalidade simples e audaciosa: apresentar Jesus Cristo como Caminho, Verdade e Vida. Como Luz que ilumina a vida de todos nós.

A cada programa, Dom José Falcão de Barros apresenta um tema diferente, abordando questões espirituais e materiais da vida hodierna, à luz do Evangelho de Jesus Cristo, da doutrina, do magistério e da tradição da Igreja Católica Apostólica Romana.