Os salmos na nossa vida – Salmo 8 – A glória do Criador nos esplendores da Criação


Dom José Francisco Falcão de Barros
reflete o Salmo 8,1-2:

Ao mestre de canto. Sobre os lagares. Salmo de Davi.
Salmo 8,1

“Nada no texto do presente Salmo parece tratar de lagares, que constam do título. Daí se conclui que frequentemente na Escritura uma só e mesma coisa vem sugerida por muitas e várias comparações. Lagares assim podem representar as igrejas, do mesmo modo que eira significa igreja. Na eira, ou nos lagares, de outra coisa não se cuida senão de limpar os frutos, tirando os invólucros, que haviam sido necessários para brotarem, crescerem, e chegarem à maturidade da messe ou à vindima. Esses invólucros ou cascas são retirados, a saber: do trigo as palhas na eira, e das uvas no lagar as grainhas (bagulhos). Assim nas igrejas se separam, por amor espiritual e servindo de intermediários, os ministros de Deus, os bons da multidão dos mundanos, congregados com aqueles que precisavam dessa multidão para nascerem e se tornarem capazes de receber a palavra divina.

Trata-se, pois, de se separar os bons dos maus, não pelo lugar, mas pelo afeto, embora vivam juntos nas igrejas pela presença corporal. Virá, porém, o tempo em que se recolherão os grãos de trigo nos celeiros e os vinhos nas adegas. “Recolherá o trigo em seu celeiro; a palha, porém, ele a queimará num fogo inextinguível” (Lc 3, 17). Ainda é possível entender o mesmo, por meio da seguinte comparação: Recolherá o vinho nas adegas e lançará as grainhas aos animais, de sorte que o ventre dos animais sirva de ponto de comparação para as penas da geena. Há outro sentido para a expressão lagares, contanto que não nos afastemos do significado de igrejas. As uvas seriam o Verbo divino. O Senhor é chamado também cacho de uvas, colhido na terra da promissão pelos exploradores enviados pelo povo de Israel, que o trouxeram suspenso do madeiro, à guisa de um crucificado (Nm 13, 24).

Quando o Verbo divino, para uma enunciação, emprega o som da voz, querendo atingir os ouvintes, neste som, qual grainha, está encerrado o entendimento, o vinho. E assim, esta espécie de uva atinge os ouvidos, qual em dorna de lagar. Ali se faz a separação, de maneira que o som chega ao ouvido e seu sentido é percebido pela memória dos ouvintes, como se fosse uma cuba; de lá passa para a disciplina dos costumes e os hábitos mentais, como da cuba à adega onde, se o vinho não fermentar devido a alguma negligência, fica melhor com o tempo. Fermentou, de fato, nos judeus, e foi este vinagre (Jo 19, 29) que deram ao Senhor para beber. Quanto ao vinho que o Senhor há de beber com os seus santos, no reino de seu Pai, produto das vinhas do Novo Testamento (Lc 22, 18), tem de ser muito delicioso e forte.

É costume aplicar a figura dos lagares também ao martírio. Os restos mortais dos que confessaram o nome de Cristo, calcados pela aflição das perseguições, ficaram na terra, como grainhas; as almas, porém, partiram para o repouso das habitações celestes. Mas esta interpretação também não fica alheia aos frutos das igrejas. Salmodia-se, portanto, “por causa dos lagares”, quer dizer, pelo estabelecimento da igreja, quando nosso Senhor, depois da ressurreição, subiu aos céus. Então enviou o Espírito Santo, e os discípulos, dele repletos, desassombradamente pregaram a palavra de Deus, a fim de congregarem as igrejas”.
Santo Agostinho (354-430)
Enarrationes in Psalmos, 8, 1-3

“Quem cuida dos cachos de uva alegra-se também com os cachos da verdade daquele mesmo vinho; eles devem ser colhidos na época certa e lançados nos lagares, de sorte que o vinho esmagado venha trazer alegria aos corações dos homens (cf. Sl 104, 15). Alguns dão como fruto as doutrinas da verdade; outros, obras espirituais. Não existe um só lagar, mas muitas sãs virtudes; um lagar é preparado para o fruto individual de cada um: quem é celibatário dá frutos do lagar da modéstia; quem escolhe o matrimônio conserva puro o seu leito, e assim para os outros casos. Muitos são os lagares da vida presente, aos quais se aplicam os ensinamentos que se orientam em diferentes princípios de vida”.
Dídimo, o cego (313-398)
Fragmentos sobre os Salmos, 8, 1

“Eu sou a videira; vós, os ramos. Quem permanecer em mim e eu nele, esse dá muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer”.
João 15,5

“Ó Senhor, nosso Deus, como é glorioso vosso nome em toda a terra! Vossa majestade se estende, triunfante, por cima de todos os céus”.
Salmo 8,2

“Ó Senhor, nosso Deus, como é glorioso vosso nome em toda a terra!” Pergunto: Por que é admirável o seu nome em toda a terra? A resposta é a seguinte: “Porque se elevou a tua magnificência acima dos céus”. O sentido então seria: Senhor, que és nosso Senhor, como te admiram os habitantes da terra! Porque tua magnificência, da humildade terrena, elevou-se acima dos céus. Apareceu quem eras ao desceres, quando uns viram aonde subias e os demais acreditaram”.
Santo Agostinho (354-430)
Enarrationes in Psalmos, 8, 4

 

Luz da Vida:
O programa Luz da Vida nasceu da necessidade de proclamar o nome santo de nosso Senhor Jesus Cristo, de levar a todos os corações a certeza de que não existe outro nome debaixo do céu pelo qual devamos ser salvos: Jesus Cristo.

“Eu sou a luz do mundo; aquele que me segue não andará em trevas, mas terá a luz da vida” (Mt 8, 12). Foi essa passagem bíblica que inspirou a criação e o nome do programa, que tem uma finalidade simples e audaciosa: apresentar Jesus Cristo como Caminho, Verdade e Vida. Como Luz que ilumina a vida de todos nós.

A cada programa, Dom José Falcão de Barros apresenta um tema diferente, abordando questões espirituais e materiais da vida hodierna, à luz do Evangelho de Jesus Cristo, da doutrina, do magistério e da tradição da Igreja Católica Apostólica Romana.